quarta-feira, 14 de março de 2012

Livro Memórias sentimentais de João Miramar

Memórias Sentimentais de João Miramar
Oswald de Andrade

O Autor
José Oswald de Andrade [1890-1953] foi poeta, romancista, ensaísta e teatrólogo. Figura de muito destaque no Modernismo Brasileiro, ele trouxe de sua viagem a Europa o Futurismo. Formado em Direito, Oswald era um playboy extravagante: usava luvas xadrez e tinha um Cadillac verde apenas porque tinha cinzeiro, para citar apenas algumas de suas muitas extravagâncias.
Amigo de Mário de Andrade, era seu oposto: milionário, extrovertido, mulherengo [casou-se 5 vezes, sendo as duas primeiras as mais célebres: Tarsila do Amaral e Patrícia 'Pagu' Galvão]. Foi um dos principais artistas da Semana de Arte Moderna e lançou o Movimento Pau-Brasil e a Antropofagia, corrente que pretendia devorar a cultura europeia e brasileira da época e criar uma
verdadeira cultura brasileira. Fazendeiro de café, perdeu tudo e foi à falência em 1929 com o crash da Bolsa de Valores. Militante esquerdista, passou a divulgar o Comunismo junto com Pagu em 1931, mas desligou-se do Partido em 1945.
Sua obra é marcada pela irreverência, pelo coloquialismo, pelo nacionalismo e pela crítica. Morreu sofrendo dificuldades de saúde e financeiras, mas sem perder o contato com os artistas da época. entre seus romances encontram-se Memórias Sentimentais de João Miramar, Os Condenados e Serafim Ponte Grande.

Análise
Memórias Sentimentais de João Miramar é o primeiro grande romance da prosa modernista brasileira. Redigido entre 1916 e 1923, foi publicado em 1924. Composto de 163 episódios numerados, tem por personagem principal João Miramar. A montagem fragmentária do romance impossibilita uma leitura tradicional e linear da história.
O enredo se inicia na infância do herói, sugerida pela linguagem propositadamente infantil dos primeiros capítulos. Ainda adolescente, e com grande inclinação para a boêmia, Miramar faz sua primeira viagem à Europa, a bordo do navio Marta. O romance assume, a partir daqui, a forma de um verdadeiro diário de viagem, que acentua o cosmopolitismo dos pontos turísticos da Europa. De volta ao Brasil, por causa do falecimento de sua mãe, João Miramar casa-se com Célia, sua prima, mantendo, ao mesmo tempo, um romance com a atriz Rocambola, o que vai provocar seu posterior desquite. No final do romance, o herói fica viúvo, é abandonado pela amante e vai à falência, devido à má aplicação de fundos na indústria cinematográfica. Nos últimos fragmentos, notamos o amadurecimento de João Miramar que, retrospectivamente, redige as Memórias que o leitor está lendo.
Uma série de inventivas, traços de estilo combinada a um agudo senso crítico da sociedade da época fazem deste texto uma grande obra de vanguarda. Nas palavras de Machado Penumbra, personagem encarregada de prefaciar o romance:
"Esperemos com calma os frutos dessa nova revolução que nos apresenta pela primeira vez o estilo telegráfico e a metáfora lancinante".
De fato, o estilo fragmentário e sintético do texto é revolucionário na nossa prosa, assim como seu caráter cinematográfico. Os episódios assemelham-se mais a seqüências de um filme do que a capítulos de romance. Há uma ênfase muito grande no elemento visual e muitas das descrições adotam uma linha geométrica e sintética, bastante próxima dos princípios cubistas, que visa a apresentar fragmentos justapostos da realidade, numa tentativa de captá-la na sua totalidade. Estamos perante um texto que transgride todas as normas do romance convencional, já que mistura continuamente a prosa com a poesia, abolindo os limites entre uma e outra. As personagens, alvo da ironia caricatural do autor, estão desprovidas de profundidade psicológica; satirizam os diferentes tipos sociais de uma São Paulo de início de século: "Memórias Sentimentais - por que negá-lo? - é o quadro vivo de nossa máquina social", afirma Machado
Penumbra. Sua ironia extrapola o contexto do romance, para atingir o próprio leitor, num tom desafiante: "Pena é que os espíritos curtos e provincianos se vejam embaraçados no decifrar do estilo em que está escrito tão atilado quão mordaz ensaio satírico".

Nota
Nos 163 curtos fragmentos desta obra, Oswald de Andrade constrói um personagem semi-autobiográfico, o referido João Miramar. Memórias Sentimentais é um romance composto de episódios-fragmentos numerados, ou capítulos-instantes, e foi publicado em 1924.
Frenético, seu estilo telegráfico é cheio de neologismos e estrutura fraseal incomum e inovadora. Ao contar a história de Miramar, da infância, casamento e amantes, viagens à Europa e aventuras financeiras no cinema até sua viuvez na época do armistício (o livro na maioria se passa de em São Paulo de 1912 a 1918), Oswald cria um romance futurista. Aqui, prosa e poesia se confundem
totalmente; alguns dos fragmentos "são" poesia. O livro tem prefácio de um personagem fictício do livro: Machado Penumbra, uma sátira aos "intelectuais" de sua época, com estilo pedante, gente que Oswald tanto combateu.
Esta é a primeira obra de ficção, na literatura brasileira, em que foram experimentados os princípios da prosa modernista de 1922 a 1930. É a fase combativa do modernismo e o escritor está à procura de uma forma de expressão artística própria da vida moderna.Lançado pela primeira vez apenas dois anos após a Semana de Arte Moderna ( 1924 ), este livro ainda hoje perturba pelo alto grau de novidade que introduziu no panorama da literatura brasileira, podendo ser considerado um dos textos mais importantes da ficção ocidental. Um perfeito retrato da burguesia paulistana e seus conflitos no princípio deste século, às voltas com valores novos que colocavam em cheque todos os seus preconceitos.
Lírico, satírico, irreverente, este romance apresenta um Oswald na sua melhor forma, recorrendo à linguagem cinematográfica e sintética, capaz de traduzir toda a sua modernidade.
Aspectos Relevantes: as frases simplificam-se, distinguem-se dos elementos inúteis, chegam à concisão elíptica e ao estilo telegráfico. À guisa de prefácio, Machado Penumbra, personagem da obra, dirá:"Esperemos com calma os frutos dessa nova revolução que nos apresenta pela primeira vez o estilo telegráfico e a metáfora lancinante."

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